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A felicidade não envelhece

21/1/2016 11:20 - por Elaine de Jesus Guimarães

Casou aos vinte um anos, naquela época moça era pra casar, o futuro esposo era filho de um velho conhecido da família, o que facilitou as coisas, pois se conheciam desde a meninice.
Linda, com olhos cor de mar que faziam qualquer um querer naufragar naquele oceano de mistério. Certo dia passeava pela praça da cidade, o rapaz a viu e se interessou, ela mal se lembrava dele, se encontram poucas vezes em aniversários e outras festas de família, logo os pais trataram de marcar um jantar e aproximar os jovens.
Com a educação que tivera aceitou ser cortejada por ele, e em menos de um ano ela se viu no altar ao lado de um rapaz tímido, de pouca conversa e dono de um respeito que ela muitas vezes desconhecia o sentido de ser, o beijo no altar lhe foi dado na testa.
Uniu-se a ele sem a emoção da paixão, do amor, pois desconhecia tais sentimentos, via em seu esposo um companheiro e amigo, com quem sentava-se na varanda a observar as tardes passar, vez ou outra ele colocava um disco na vitrola, porem nunca lhe sussurrou um refrão se quer ao ouvido, nem mesmo se arriscou a tira-la pra dançar, ou coisas do tipo que ela ouvira dizer que os amantes faziam.
Viviam uma vida tranqüila, sem grandes emoções, a maior e talvez única delas, foi aos três anos de casados quando tiveram uma filha, que cresceu e diferentemente de seus pais quis conhecer o mundo. Pertencia uma paixão pela vida e pelos sentimentos que surpreendia a todos e contagiava a qualquer um a seu lado, a mãe compreendia e sorria timidamente reconhecendo que a filha pintaria sua vida com cores mais alegres e vibrantes, pois sentiria paixão, conheceria o amor, experimentaria emoções fortes e intensas, ficava encantada ao ver a menina cantando pela casa, dançando como quem flutua em nuvens, sorrindo por tudo, sem pressa, como se a vida lhe fizesse cócegas a todo instante.
Sempre que olhava para filha pensava: ela será mais feliz, pois saberá o que é ser feliz, conhecera de tudo e terá vastas escolhas, como se pensasse sobre si mesma, chegando a conclusão de que a vida não lhe deu muitas chances para um outro caminho.
Imaginava que sua historia não iria muito alem daquele casamento tranqüilo, e das tardes sentadas à varanda conhecendo mais da vida através dos olhos da linda moça que trouxera ao mundo.
Faria trinta anos de casada naquele mês, mas a vida, ou melhor, a morte levou seu melhor amigo. Em seu leito ouvira do rapaz tímido a confissão de arrependimento por nunca ter-lhe dado mais do que aquela vida, em um ultimo pedido disse sorrindo a esposa: prometa-me que será mais feliz. Então ela o viu cerrar os olhos sorrindo, enquanto suas mãos deixavam as dela.
Restou-lhe da vida, a varanda, onde agora sozinha esperava pelo começo e o termino de mais um dia. Foi assim durante alguns meses, mas filha observando que mãe lhe parecia ainda mais triste e sozinha do que o de costume, sem nem mesmo consulta-la matriculou-a em uma escola de dança. Por insistência, convenceu a mãe a participar, no primeiro mês para incentivá-la foi seu par nas aulas, e quando percebeu que ela tomara gosto pela “coisa”, uma noite inventou um compromisso que a fez ir sozinha. Sem par, um senhor a tirou para dançar, tratava-se de um jornalista aposentado, já o tinha visto algumas vezes pela cidade, mas nunca repara em nenhum outro homem; Mesmo ressabiada e contida, aceitou o convite.
Logo que os corpos se encontraram, ela sentiu um doce perfume amadeirado que lhe fez automaticamente fechar os olhos, ele transpassou a mão em sua cintura e a conduziu pelo salão, foi a primeira vez que sentiu os pés saírem do chão, a cabeça entontecer, e o corpo em transe como se a musica à invadisse desde a essência de sua alma.
Saiu da aula cantarolando uma melodia, lembrando do cheiro de seu par, hora cerrava os olhos para sentir no corpo a sensação que lhe era novidade.
Ao chegar em casa e olhar-se no espelho sorriu para si mesma, adormecendo ansiosa, imaginando se ele a convidaria no dia seguinte para uma outra dança.
Dançaram novamente na noite seguinte, e com o passar dos dias os corpos iam aproximando-se involuntariamente. Ele começou a acompanhá-la ate sua casa, conversavam sobre todas as coisas, e sorriam com uma cumplicidade irradiante, numa noite a beijou e então ela experimentou um sabor novo, atônita quase não dormiu, estava apaixonada, e mesmo sentindo-se um tanto boba por um sentimento novo entregou-se aquela nova experiência.
Na noite seguinte ao beijo ele não foi a aula, desiludida e sentindo-se ridícula por acreditar naquele velho que agora lhe parecia um assanhado aproveitador, voltou para casa com o pensamento de desistir das aulas, e esquecer de uma vez por todas as horas que passara ao lado daquele homem que lhe despertara mais do que paixão, lhe despertara a vida.
Tomou um longo banho e deitou, quase adormecida começou a ouvir uma melodia conhecida, era a musica que dançara com ele pela primeira vez, não deu importância, imaginando que estava a sonhar, não era sonho, seu par estava a porta de sua casa, na mesma varanda cercada de silencio, acompanhado de dois amigos a lhe fazer uma serenata.
Encantada esperou o fim da canção, e logo correu ao encontro de seu par o qual sem pestanejar lhe pediu em casamento, com o coração ainda aos pulos, ela aceitou.
Momentos antes da cerimônia a filha lhe perguntou se ela se arrependera de não ter vivido todo aquele encantamento na juventude, ela então do alto de sua sabedoria, respondeu-lhe: negativamente, acrescentando que não existe momento pré-determinado para ser feliz, sentimento que os anos são incapazes de envelhecer.
Nunca é tarde!
D.S.L

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